Seja por achar que “atrapalha” a família, por vir de outro estado e não conseguir se manter, para aguardar atendimento médico especializado ou porque a família alega não ter condições de cuidar.
Esses são alguns dos motivos que levaram 152 idosos a abrigos filantrópicos de Cuiabá e Várzea Grande. Mesmo a maioria deles tendo familiares de primeiro grau, poucos são os que recebem uma visita. Reconhecendo conviver diariamente com saudade, os idosos preferem não ir atrás de filhos ou irmãos, alegando ser humilhação ou um problema na vida destes.
O Abrigo Bom Jesus é a única unidade pública que recebe idosos na Capital. O abrigo possui convênio com a Prefeitura de Cuiabá e, de acordo com levantamento da Secretaria Municipal de Assistência Social, Direitos Humanos e da Pessoa com
Deficiência, no local existem atualmente 87 pessoas com idade entre 60 e acima de 91 anos de idade, sendo 49 do sexo feminino e 38 do sexo masculino. Eles vieram de diferentes cidades do Brasil e até de outros países.
Nascido em Goiânia (GO), mas criado em Poxoréu, Alvarindo Matias de Amorim, 74, é viúvo, pai de 3 filhos homens e já é avô, porém, nunca viu nenhum dos netos. “Minha mulher, a única com quem me casei, foi perfeita aqui na terra e anseio pelo nosso encontro. Eu era suficiente para ela e ela para mim. Quando ela morreu, queria tirar a minha vida também. Ela se foi e me deixou com o nosso caçula com 6 meses de vida. Foi uma loucura”.
Para tentar esquecer sua “alma gêmea”, Alvarindo foi para Belém (PA) trabalhar na mineração de ouro e de lá seguiu para Marabá, onde na época se instalou na Serra Pelada. Diz que o local chegou a ter a circulação de mais de 70 mil pessoas. “Era tanta gente, que morriam diversos e a gente não dava falta”.
Mas a “farra do ouro” acabou e ele voltou para Mato Grosso. Começou a trabalhar em uma propriedade que ficava na estrada de Santo Antônio. Em janeiro de 2012, sentiu uma dormência do lado esquerdo e nos membros inferiores. “Tive um derrame. Fui encaminhado para o Pronto Socorro, onde fiquei 8 meses. Sai em 2013, direto para o abrigo”.
Apenas o filho do meio, que é sargento da Polícia Militar, realizava visitas, mas há pelo menos um ano não o vê. “Sinto muitas saudades de ver, conversar. Mas sei que eles têm a família deles e precisam cuidar, não quero atrapalhar e não vou ficar pedindo para virem me ver”.
Alvarindo diz que sente saudades também de ser útil. Um pouco antes da pandemia, a administração o chamou para pintar alguns pneus que serviram como vasos de plantas. “Sobrou tinta, sugeri pintar os pilares e assim o fizemos. Pedi o menor pincel que tinha para que o trabalho durasse o maior tempo possível. Acordava empolgado sabendo que teria uma utilidade”.
Devido ao derrame, Alvarindo perdeu uma perna, a mobilidade do braço esquerdo e com o tempo teve a vista afetada. “Entre altos e baixos, eu me considero uma pessoa feliz. Tenho muitos amigos que vêm me visitar e aqui dentro converso com todos”.
COMMENTS